A oportunidade do centenário de Paulo Freire

O calendário marca hoje, 19 de setembro, o centenário de nascimento do nordestino Paulo Regius Neves Freire, o Paulo Freire, um dos maiores pensadores da educação e da pedagogia no mundo. O centenário acontece em um momento crucial para o Brasil, envolto hoje nas trevas da deseducação. E por isso é necessário, mais que nunca, falar de seu legado.

O legado de Paulo Freire é um dos alicerces da pedagogia crítica, onde o processo de aprendizagem foi redimensionado na formação educacional, descontruindo a educaçãobancária, substituindo o mero letramento pela compreensão de como “ensinar-aprender”, ou seja, pela sua percepção de dupla conceituação. Paulo Freire dizia que “se ensina aprendendo e se aprende ensinando”.

Considerado um dos brasileiros mais homenageados no mundo, Paulo Freire obteve em sua trajetória de vida 35 títulos de Doutor Honoris Causa, entre os anos de 1988 e 2013, atribuídos por reconhecidas universidades de onze países.  Pelo território brasileiro e em outros países foram criados dezenove “Institutos Paulo Freire”.

Reconhecido como Patrono da Educação brasileira por meio da lei Nº 12.612/2012, Paulo Freire via no ato de alfabetizar “a oportunidade de fazer com que analfabetos e analfabetas resgatassem a sua humanidade roubada”, como definiu a escritora Ana Maria Araujo Freire, sua companheira e biógrafa, autora do livro “Paulo Freire – Uma história de vida”, Prêmio Jabuti de Melhor Biografia no ano de 2007.

No livro Pedagogia do Oprimido, que propõe um método de alfabetização dialético, Paulo Freire se diferenciou dos tradicionais intelectuais de esquerda ao defender o diálogo com as pessoas mais simples não só como método, mas como um modo de ser realmente democrático.

As pesquisas demonstram o impacto de sua obra ao redor do planeta. A Open Syllabus, por exemplo, plataforma que mapeia os livros mais requisitados na Educação, pesquisou em mais de um milhão de programas de estudos de universidades dos Estados Unidos, Reino Unido, Austrália e Nova Zelândia e descobriu que Pedagogia do Oprimido é o 99º livro mais citado, fazendo do pedagogo o único brasileiro entre os 100 mais citados e o segundo mais bem colocado no campo da educação. Outra pesquisa da London School of Economics revelou que Pedagogia do Oprimido é o terceiro livro mais citado mundialmente na área das Ciências Sociais.

Claro que com todas essas referências já se justificava a homenagem de qualquer texto ao centenário de Paulo Freire. Mas não é só. Neste momento desolador do Brasil, se torna fundamental revisitar Paulo Freire em seu centenário para fazermos um resgate da humanização.

Nunca foi tão vital aplicar Paulo Freire, traduzir seu amor pelos menos favorecidos e construir as bases de uma sociedade mais fraterna e igualitária. No Brasil, felizmente, temos exemplos dos efeitos de Paulo Freire na educação. Eu me orgulho do meu Ceará, que é hoje um estuário do que foi a crença de Paulo Freire. Os resultados obtidos na educação são claros. Vemos as instituições de ensino públicas no Estado do Ceará em destaque no Ideb, o índice que avalia o desenvolvimento da educação básica brasileira.  Nove das 10 melhores escolas do Brasil estão no Ceará.

Fortaleza está em 1° lugar do Norte e Nordeste em matrículas de Tempo Integral e, percentualmente, a capital brasileira líder em matrículas de tempo integral. Também é 1° lugar do Norte e Nordeste em matrículas na Educação Inclusiva. Fortaleza é 1° lugar do Brasil na ampliação de matrículas na Educação Infantil e 1° lugar do País na ampliação de matrículas em creches e já tem mais de 50% das matrículas na rede municipal em tempo integral.

Do Ceará podemos, sem falsa modéstia, celebrar o centenário de Paulo Freire com orgulho. Neste pedaço do Brasil, onde as adversidades campeiam e nossa gente sobrevive em uma terra com 85% do seu território em solo cristalino, semeamos esperança e já começamos a colher os frutos sonhados por Freire quando afirmava “Não sou apenas objeto da história, mas se sujeito igualmente. No mundo da história, da cultura, da política, constato não para me adaptar, mas para mudar”.

Por: Roberto Claudio

Foto: Instituto Paulo Freire

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