Manaus voltou a viver o caos do desabastecimento. Mais uma vez, a capital amanheceu sem água, refém da incompetência da Águas de Manaus, que insiste em se apresentar como concessionária de um serviço essencial, mas se comporta como uma empresa despreparada, indiferente e incapaz de garantir o básico: água nas torneiras.
Não é a primeira vez — e, infelizmente, não será a última — que um apagão elétrico paralisa o sistema de captação e distribuição. A concessionária, que há anos opera na cidade, não tem sequer um plano de contingência eficiente. Em pleno século 21, falta energia e, por consequência, falta água. Não há geradores, não há alternativas. Há apenas promessas e desculpas que não matam a sede de ninguém.
O manauara paga caro. E paga caro para receber um desserviço. A tarifa está entre as mais altas do país, mas a contrapartida é uma rede frágil, com interrupções constantes e justificativas repetitivas. A indignação popular já batizou a empresa de “Mágoas de Manaus” — um apelido cruel, porém justo, que traduz a frustração coletiva.
É hora de virar essa página. O Ministério Público e a Defensoria Pública precisam agir com firmeza. Não basta abrir sindicâncias formais ou ouvir justificativas vazias. É preciso cobrar responsabilidades, exigir investimentos reais e apurar os contratos que, de forma obscura, foram prorrogados e ampliados sem transparência. Quem ganhou com isso? Quem fechou os olhos para o descumprimento de obrigações?
A capital do Amazonas não pode seguir refém de um contrato leonino e de uma empresa que trata água — direito humano fundamental — como mercadoria de luxo. O caminho é claro: abrir a caixa-preta da concessão e chamar nova licitação pública, transparente e justa, para trazer uma prestadora de serviço à altura da cidade.
Até lá, Manaus seguirá colecionando secas dentro de casa, não apenas no Rio Negro. E continuará a provar do amargo gosto de viver sob o jugo de uma empresa que, em vez de águas, só entrega mágoas.