Tecnologia põe em órbita satélites do tamanho de um pão de forma
A avalanche foi um desastre impressionante: 7 milhões de metros cúbicos de gelo glacial e neve rolando pela cordilheira tibetana a 300 quilômetros por hora. Nove pessoas e dezenas de animais morreram nesse evento que surpreendeu cientistas de todo o mundo.
Enquanto pesquisavam por que a avalanche ocorrera com tanta força, os pesquisadores que estudam as mudanças climáticas analisaram imagens tiradas nos dias e semanas anteriores e viram que rachaduras sinistras tinham começado a se formar no gelo e na neve. Então, examinando as fotos de uma geleira próxima, eles notaram fendas semelhantes se formando, o que disparou uma corrida para avisar as autoridades locais que essa região também estava prestes a desabar.
tamanho de um caminhão de lixo e custar até US$ 400 milhões, os satélites agora geralmente não são maiores do que um micro-ondas ou um pão de forma. Custam uma fração de seus antecessores, às vezes menos de US$ 1 milhão, e podem ser produzidos em massa dentro de fábricas ou, em alguns casos, numa garagem ou numa sala de aula de faculdade.
À medida que o tamanho e os custos dos satélites diminuíram, sua quantidade cresceu significativamente. O número de satélites em operação mais do que dobrou de 1.381 em 2015 para cerca de 3.371 no final do ano passado, de acordo com a Bryce Space and Technology, uma consultoria que acompanha o setor. Em 2011, foram lançados 39 satélites que pesavam menos de 600 kg, de acordo com a Bryce. Em 2017, o número foi de 338 e, no ano passado, quando a SpaceX começou a lançar centenas de satélites Starlink projetados para transmitir internet em áreas rurais, o número saltou para mais de 1.200.
A indústria está pronta para continuar seu rápido crescimento à medida que a SpaceX e outras empresas lançam constelações de milhares de satélites destinados a servir áreas sem acesso à banda larga. O incrível encolhimento dos satélites deu origem a foguetes menos caros, projetados especificamente para lançar lotes de satélites pequenos. E a competição entre os lançadores continua a reduzir o custo de colocar um artefato em órbita.
Dinheiro no jogo
Agora, o setor vem chamando a atenção de investidores de risco, que financiam empresas como a Planet. Nas últimas semanas, duas empresas de satélite, a Spire Global e a Black Sky, abriram capital por meio de uma fusão conhecida como empresa de aquisição para propósito específico, ou SPAC, na sigla em inglês.
Empresas de todo o mundo estão trabalhando para desenvolver satélites pequenos. A AAC Clyde Space, uma empresa com sede na Suécia, lançou 10 satélites, alguns conhecidos como cubesats, por causa de suas pequenas caixas que pesam apenas alguns quilos.
Assim como a Planet, a empresa oferece “serviços de espaço”, o que significa que as pessoas podem comprar acesso aos dados de seus satélites, sem se preocupar com o lançamento ou a construção da espaçonave.
“Você não precisa se preocupar em projetar os satélites, acompanhar a produção, fazer os testes”, disse Rolf Hallencreutz, presidente do conselho da empresa. “Você só precisa dizer: ‘Quero esse tipo de dado’. E nós fornecemos esses dados. Para nós, isso muda o jogo, porque nos permite atender a vários clientes com a mesma constelação”.
A indústria de satélites pequenos também chamou a atenção do Pentágono e das agências de inteligência que adorariam ter enxames de satélites que podem ser facilmente lançados e substituídos para espiar atrás das linhas inimigas.
A Planet foi fundada em 2010 por um trio de jovens cientistas e engenheiros que trabalhavam no Ames Research Center da Nasa, no Vale do Silício, naquela que se tornou uma história clássica de startups de tecnologia: jovens movidos pelo idealismo, trabalhando até tarde no seu próprio tempo e aproveitando suas tendências nerds para construir seus próprios satélites, que eram menores e mais baratos.
Sim, foi o que eles fizeram, numa garagem em Cupertino, Califórnia, onde fica a sede da Apple. Desde então, a Planet lançou com sucesso 452 satélites e se tornou a vanguarda da indústria.
Agora tem mais de 500 funcionários e seu total de usuários ativos vem crescendo em média 40% ao ano desde 2018.
Os satélites da empresa circundam o globo em órbitas cuidadosamente projetadas que “varrem a Terra linha a linha” – tirando fotos precisas de massas de terra que, juntas, criam uma imagem do planeta, todos os dias. Isso dá aos cientistas e pesquisadores uma visão das condições locais, para que eles possam rastrear mudanças em florestas, áreas costeiras, tráfego marítimo e terras agrícolas quase em tempo real.
As imagens podem ajudar na segurança da fronteira, no rastreamento de refugiados e no socorro em caso de desastres. Como a empresa compilou um vasto arquivo de imagens dos últimos anos, seus assinantes podem visitar o passado, observando como as coisas mudaram: álbum de fotografias da Terra ao longo do tempo.
“As fotos não mentem”, disse Will Marshall, cofundador e presidente-executivo da Planet.
Andreas Kääb, glaciologista da Universidade de Oslo, descobriu tudo isso enquanto explorava o que causou a devastadora avalanche no Tibete. Ele e outros cientistas notaram “que a geleira vizinha também estava se comportando de um jeito esquisito”, disse ele por e-mail. Os pesquisadores tentaram contatar as autoridades locais no Tibete, passando por contatos na China, para avisá-las de que o país também estava prestes entrar em colapso. Mas a mensagem demorou cerca de um dia até ser transmitida. E, a essa altura, “a geleira já tinha desmoronado”, disse ele.
Ninguém se feriu, mas o “caso mostra que as imagens diárias de alta resolução são muito importantes na gestão de desastres e claramente têm potencial para fazer avisos rápidos e antecipados”.
A organização sem fins lucrativos Amazon Conservation Association usa as imagens de satélite para monitorar a extração ilegal de madeira e as minas de ouro na Amazônia andina. No passado, usava satélites governamentais tradicionais, que tiravam fotos “a cada oito dias e, se o tempo estivesse nublado, era preciso esperar mais oito dias”, disse Matt Finer, diretor de Monitoramento do Projeto Amazônia Andina.
Essas imagens tinham resolução de 30 metros, o que era razoável, mas não muito bom quando você estava tentando contar árvores. Então a Agência Espacial Europeia lançou um satélite com resolução melhorada, mostrando objetos de 10 metros de diâmetro. Mas os satélites da Planet foram uma melhoria bem-vinda, com resolução de 3 metros e imagens que estão disponíveis diariamente.
“É um monitoramento em tempo real, na escala de dias ou horas”, disse Finer. “Muitas vezes, estamos olhando para uma imagem de hoje ou de ontem”.
Os dados do governo eram gratuitos e o grupo teve de pagar uma taxa de assinatura pelas imagens da Planet. Mas valeu a pena, disse Finer. “Estamos falando de saltos de melhoria na capacidade visual e analítica”, disse ele.
Usando alguns dos satélites da próxima geração da Planet, os quais fornecem resoluções ainda mais altas, “podemos ver cada árvore. Podemos ver os campos de extração de madeira”, disse ele. Dá para ver até as lonas azuis que os mineiros erguem como telhados improvisados para se proteger da chuva e do sol.
Dados os altos custos dos satélites, as operadoras tradicionais costumam utilizar tecnologias que sabem ser confiáveis, mas podem não ser as mais atualizadas, disse Marshall.
“Adotamos uma abordagem de risco diferente”, disse ele. “Você tem mais satélites chegando e, se alguns deles falharem, não tem muito problema. É isso que nos permite pegar a tecnologia mais recente”.
O lançamento de satélites pequenos é mais barato – o que propicia um novo modelo de pequenos foguetes projetados para serem mais baratos e lançados sob demanda. O Rocket Lab, que faz lançamentos da Nova Zelândia e, em breve, da costa leste da Virgínia, é líder nesse mercado relativamente novo.
Ainda este ano, a empresa planeja lançar um satélite do tamanho de um micro-ondas para a lua. O satélite voará na mesma órbita lunar que a Nasa quer usar para a estação espacial que pretende operar lá – a Gateway.
Outras empresas de foguetes estão entrando rapidamente nesse mercado, entre elas a Virgin Orbit, startup fundada por Richard Branson.
Em vez de lançar seu foguete verticalmente a partir de uma plataforma, a empresa amarra seus propulsores à asa de um avião 747 que os carrega a mais ou menos 40 mil pés. O foguete é solto, depois liga seus motores e decola.