Às vésperas da COP-30, que será realizada em Belém, o engenheiro e ex-vice-governador do Amazonas, Samuel Hanan, defende que o Brasil leve uma mensagem clara à comunidade internacional: a preservação da Amazônia deve ser tratada como uma responsabilidade global, não um ônus restrito aos povos da região.
Em artigo publicado na imprensa nacional, Hanan afirma que o encontro mundial sobre mudanças climáticas representa uma oportunidade histórica para o Brasil mostrar que tem feito enormes sacrifícios econômicos e sociais para manter a floresta em pé — e que essa renúncia precisa ser reconhecida e compensada pelos países mais ricos.
Segundo dados citados por ele, a Amazônia permanece preservada em mais de 84% de sua extensão, mesmo após mais de cinco séculos de exploração. De acordo com um estudo do Banco Mundial (2023), os sete países amazônicos deixam de explorar recursos naturais equivalentes a US$ 317 bilhões por ano — um custo local que deveria ser dividido globalmente.
Hanan ressalta que 18,7 milhões de pessoas vivem na região Norte, muitas delas no interior, enfrentando desigualdades profundas. Enquanto a Amazônia ocupa 45,5% do território brasileiro, abriga apenas 8,7% da população nacional e responde por 6,2% do PIB do país. A renda per capita média dos amazônidas é 29% inferior à média nacional, e chega a ser 64% menor entre os que vivem fora das capitais.
O engenheiro destaca ainda que os países do G7, responsáveis por mais de 60% do PIB mundial, devem reconhecer o tamanho da renúncia econômica dos estados amazônicos e passar a contribuir de forma efetiva. Ele cita inclusive alternativas práticas, como a criação de um fundo internacional ou campanhas privadas globais, a exemplo de uma contribuição simbólica de centavos sobre produtos industrializados, que poderia gerar bilhões de dólares anuais para financiar a preservação da floresta.
Para o autor, o governo brasileiro também tem seu papel: precisa apresentar propostas concretas na COP-30, com ações firmes contra garimpos ilegais, desmatamento, pesca predatória, tráfico e poluição dos rios. Além disso, Hanan defende incentivos a atividades sustentáveis, como turismo ecológico, pesquisa científica e bioeconomia, conciliando desenvolvimento com dignidade social.
Outro ponto enfatizado é a necessidade de proteger o Aquífero Grande Amazônia (S.A.G.A.), que cobre 1,2 milhão de km², e de realizar o inventário florestal da região, nunca executado por nenhum governo.
Hanan também pede que a imprensa e os formadores de opinião reconheçam que os amazônidas são “credores, e não devedores”, já que suas renúncias econômicas superam em muito os incentivos fiscais federais concedidos à região.
Para ele, a COP-30 é o momento em que o Brasil deve falar “com altivez” ao mundo:
“Floresta em pé, sim. Responsabilidade e custos apenas dos locais, não. Responsabilidade mundial, custo mundial, sim. Especialmente dos países do G7.”
A conferência, que reunirá representantes de mais de 190 países em Belém, deve colocar a Amazônia no centro das discussões climáticas globais. Hanan conclui afirmando que não é possível adiar ações concretas, pois o destino climático do planeta passa, inevitavelmente, pelas decisões tomadas sobre a floresta amazônica e por quem nela vive.