Com coleta domiciliar, Hospital Regional Norte facilita doação de leite humano

“Saber que aquele leite que meu corpo produz com tanto amor está chegando até bebês que precisam tanto, principalmente os que estão internados, é algo que me emociona muito.” O relato da advogada Juliana Maria Santos de Lira Pessoa, de 32 anos, mostra como a maternidade pode ultrapassar os limites do próprio lar. Mãe de José Gabriel, 4 anos, e Luca Gabriel, de um mês, ela é uma das mulheres que transformaram o excesso de leite em gesto de solidariedade — com a ajuda do serviço de coleta domiciliar do Banco de Leite Humano (BLH) do Hospital Regional Norte (HRN), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) em Sobral.

Juliana começou a doar ainda na amamentação do primeiro filho, quando percebia que produzia mais leite do que o necessário. “Chegava a derramar leite no banho, jogar fora. Eu sabia que não fazia sentido desperdiçar aquilo que poderia ser vida para outros bebês”, relembra. Com o nascimento do segundo filho, não pensou duas vezes: em menos de um mês já estava novamente doando. “No começo, tudo o que eu queria era alimentar meu filho sem dor. Nunca imaginei que essa experiência poderia tocar outras famílias. Hoje vejo que é possível transformar o que vivo em acolhimento para outras mães.”

Cuidado que acolhe e facilita a doação

O serviço de coleta domiciliar do BLH do HRN atende gratuitamente mães que residem em Sobral, produzem leite excedente e desejam doar. Após contato via WhatsApp, a equipe envia um formulário de cadastro. Se necessário, uma visita inicial é realizada para coletar exames, orientar sobre a ordenha e entregar o kit de coleta (com frascos esterilizados, máscara e touca). A partir disso, a equipe realiza as coletas semanalmente, com dia e horário agendados, e encaminha o leite para pasteurização no Banco de Leite para que esteja apto a ser consumido por outros bebês.

“Essa estratégia facilita muito a adesão das doadoras. Muitas vezes, a mulher quer doar, mas não tem com quem deixar o bebê ou não consegue se deslocar. Levar o serviço até ela é garantir que esse leite precioso não se perca”, explica Raíra Bezerra, coordenadora do Banco de Leite.

As doadoras também recebem as mesmas orientações de amamentação oferecidas no Ambulatório de Aleitamento Materno do HRN. Na ocasião, é disponibilizado apoio especializado a mulheres com dificuldades para amamentar, tratando situações como mastite, fissuras, pega incorreta ou produção insuficiente. “A gente acolhe essas mães desde o primeiro contato. Seja com dificuldade na amamentação ou com excesso de produção, nosso papel é orientar, ouvir e cuidar”, afirma Raíra.

Além da coleta domiciliar e das doações internas, o HRN conta com três postos de coleta parceiros na Região Norte: Hospital e Maternidade Madalena Nunes, em Tianguá, Santa Casa de Misericórdia de Sobral e Hospital São Lucas, em Crateús. Os pontos não fazem parte da Rede Sesa, mas atuam em articulação com o banco de leite do HRN, reforçando o apoio à captação na região.

Solidariedade que nutre esperança

A médica Iara Tomaz Parente Dias, de 31 anos, é mãe da pequena Lara Tomaz, de um mês, e descobriu, logo nos primeiros dias de vida da filha, que produzia mais leite do que ela conseguia mamar. “No início, confesso que nem imaginava que esse excesso poderia ter um destino tão importante. Mas pensei: por que não doar para ajudar bebês internados, especialmente os prematuros que não conseguem mamar?”, conta.

Iara se emocionou ao entender que o gesto ultrapassa a nutrição. “A gente cresce ouvindo que amamentar é um ato de amor entre mãe e filho — e é. Mas quando entendi que esse amor podia ir além, alcançar outras famílias, tocar outras histórias, percebi a grandeza do que é ser doadora. É um ato de empatia e solidariedade.”

Já a autônoma Maria Renata Matos Andrade, de 28 anos, viveu um despertar semelhante ao amamentar a filha Maitê, de três meses. “Me vi no lugar das mães que não podem amamentar seus filhos e me doeu no coração. É gratificante saber que posso sustentar outras crianças com meu leite e que o pouco que dou satisfaz muitos bebês”, afirma. Para ela, doar é mais do que contribuir: é um exercício de se colocar no lugar da outra. “Às vezes nem percebemos o quanto um gesto simples pode impactar alguém. Isso me deu um novo sentido sobre a maternidade.”

Agosto Dourado: mês de incentivo à amamentação

Em alusão ao Agosto Dourado, mês dedicado à conscientização sobre a importância da amamentação, o HRN promoverá uma série de ações internas e externas para fortalecer a rede de doadoras e ampliar o número de frascos de vidro arrecadados — insumo fundamental para o armazenamento do leite doado.

Com o tema “Priorize a amamentação: crie sistemas de apoio sustentáveis”, a campanha deste ano tem como objetivo reforçar a importância do aleitamento materno, não apenas como um ato de cuidado individual entre mãe e bebê, mas como uma prática que exige o envolvimento e o compromisso coletivo da sociedade.

De janeiro a junho de 2025, o BLH do HRN recebeu 227,2 litros de leite humano doado. No entanto, a média ideal para suprir a demanda da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) e das Unidades de Cuidados Intermediários Neonatal Convencional e Canguru (UCINco e UCINca) é de 60 litros mensais. Atualmente, a média real gira em torno de 38 litros por mês — um déficit preocupante.

“Nosso foco neste mês é informar, acolher e estimular. Doar leite humano é um gesto que carrega amor, empatia e responsabilidade social”, conclui a coordenadora.

Serviço

Banco de Leite do HRN

Para doar leite humano: (88) 98883-4079

Para agendar Ambulatório de aleitamento: (88) 98869‑5352

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