Governo Bolsonaro, a CPI da Pandemia e um motoboy com peso de carro-forte
Pessoas comuns não gostam do que não entendem. E a CPI da Covid descobriu que a VTCLog, empresa que mantém com o Ministério da Saúde um contrato de R$ 573 milhões para armazenar e transportar remédios, tem predileção pela forma mais primitiva de manuseio do dinheiro. Em plena era das transações digitais, a empresa utilizou um motoboy, Ivanildo Gonçalves da Silva, para realizar na boca do caixa do banco saques que somaram algo como R$ 4,7 milhões.
Parte do dinheiro foi usada para pagar boletos que poderiam ser quitados pela via digital. Alguns desses boletos traziam o nome de Roberto Dias, ex-diretor de Logística da pasta da Saúde, no campo onde se lê o nome do devedor. Por uma trapaça da sorte, pelo menos R$ 47 mil em débitos de Roberto Dias começaram a ser pagos pela VTCLog 11 dias depois que o contrato da empresa com o Ministério da Saúde passou a ser administrado pela diretoria que ele comandava.
Sob Roberto Dias, o contrato a VTCLog foi reajustado num valor 18 vezes superior ao que era defendido pela área técnica do ministério. Por um golpe de azar, essas transações com aparência de trambique caíram na malha da CPI. O motoboy Ivanildo disse em seu depoimento que chegou a sacar mais de R$ 400 mil no banco. Há retiradas em profusão: R$ 350 mil num dia, 250 mil em outro, R$ 150 mil pra cá; R$ 100 mil pra lá. Isso é coisa para carro-forte, não para motoboy. Tudo muito malcheiroso.
O motoboy foi à CPI em condições esquisitas, ao lado de um advogado custeado pela empresa investigada. Deu respostas curtas. Em certos momentos, pareceu refém de interesses alheios. Negou-se a expor as mensagens trocadas com a empresa no aplicativo do celular. A comissão quebrou o seu sigilo fiscal e telefônico. Há muito por investigar. Isso talvez leve ao adiamento da apresentação do relatório final da CPI, inicialmente prevista para o final do mês.
Fonte: UOL